quarta-feira, 14 de novembro de 2012

hoje apetece-me poesia. hoje apetecem-me olhos cansados em passos vagamente dados através do vento. hoje apetece-me o abraço morto no tempo, morto no espaço, morto em mim dentro de mim. hoje apetece-me o sorriso não dado, o sorriso guardado no cofre de latão fraco, arrombado. hoje apetece-me a música por cantar, nos ouvidos por ouvir, nos pés por dançar. hoje apetecem-me as palavras por confessar num movimento comprometedor de lábios quentes. hoje apetecem-me livros escondidos por entre estantes imaginárias de bibliotecas afogadas pelas areias do tempo. hoje apetece-me o urgente do momento, das horas, dos dias. hoje apetece-me a lareira de chama acesa com a minha alma apagada. hoje apetece-me o compromisso do cigarro no gole de whisky cansado. hoje apetece-me o não sentir infinito ou o sentir exageradamente, urgentemente libertar o vazio e encher-me do que não tem resposta. morrer e renascer das cinzas, mas sem memória, sem amargura, sem o negrume do que passou. somente com a pureza de um mundo igualmente decadente a tocar um corpo novo.