sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

De mim para mim escrevo. Sem saber motivo nem porquê. Sabendo que prossigo em passos cansados, pesados, forçados pelo agitar de partículas constante que me rodeiam e me integram.
Complicam-se palavras simples, mas a simplicidade tão fugaz das palavras ditas desmistifica-se em repetidas metamorfoses, sem nunca encontrar o modo certo, a eterna forma de se dizer algo que caia sempre bem.
Não sei quem sou. Não sei o que sou. Talvez seja ninguém. Talvez seja como um circo. Monta-se a tenda para dar um espectáculo para uma plateia perdida no espaço. Fingem-se palavras, gestos, risos. Quando a farsa termina tudo se desmorona. E depois repete-se tudo, num ciclo vicioso, cansativo, que só é colorido por fora, mas que por dentro, por trás das pinturas berrantes e das roupas vistosas, só se contam as rugas, os olhos perdidos e os espelhos partidos de vidas esquecidas, passadas no caminho. Caminho para lugar nenhum.
Há lareiras apagadas desenhadas por fumos que atravessam as cordas de uma guitarra pousada, acabada num canto, tocada pelo pó de um passado sempre presente.
Não sei quem sou. Não sei o que sou. Talvez o nada do passado. Talvez o nada do futuro. Provavelmente o nada do presente.