Não
creio em esperas constantes carregadas por areias brancas. Não creio em mares
que juntam e não separam. Não creio em últimas palavras. Creio na hora da
partida. Creio em palavras que ecoam por velas ao vento e voltam para as bocas
ditas, para as bocas beijadas. Creio em lágrimas homogeneizadas na água
salgada, lágrimas escondidas por vergonhas. Creio em medos do desconhecido, do
horizonte longínquo e inalcançável, medos do depois da saudade, medos do
esquecimento perpétuo que todos ataca, que todos consome.
Embalados
na sua própria tormenta, no seu próprio movimento, arrastam os seus olhares presos
em paisagens inatingíveis, apelando somente ao silêncio de mais uma memória.
Consomem-se
aparições de passados metamorfoseados por amores abandonados como crianças que
inventam as suas próprias histórias de adormecer, porque é mais simples
carregar saudades modificando pensamentos.
Porque
as saudades pesam como âncoras em mar alto, e com o passar do tempo começam a
rasgar, primeiro a alma, o espírito, depois o corpo, corroem-no por dentro, até
aparecerem as marcas estranhas em olhares vazios, em bocas gretadas, em pálidas
peles que, intactas, procuram o que cada vez mais se afasta.
Em
imagens esfarrapadas pelo tempo ou pelo cansaço os marinheiros se despedem
daquilo que encontraram e vão perdendo, com o tempo, com os passos, com as ondas,
com a incerteza de tudo aquilo que gela a noite e apaga o próprio rasto.
E
quando nada traz o seu sinal e se saboreia o gosto de morte na boca e as
saudades crescem, ou morrem, ou se busca incessantemente mais mar, ou se crê
que já não existe mais mar para procurar. Desiste-se, pois não se vê, não se
toca, não se crê, somente se imagina, e ao contrário do que se pensa, de
imaginação não vive o Homem.