Mesmo sabendo que um dia vais
encontrar a felicidade, essa maldita que foge das mãos com a rapidez com que as
lágrimas escorregam no rosto e que a areia desaparece entre os dedos, sabes que
esse dia pode ser tarde de mais. Que a altura destinada para lhe abrires a alma
pode ser quando já estiveres demasiado remendado, desfeito e refeito tantas e tantas
vezes, que, mesmo sentindo-a, não a consegues guardar, porque, mesmo que um dia
tenhas sido o baú de madeira onde o teu irmão te fechou e tu ficaste com medo
do escuro, hoje já não o és, já aprendeste o que é a solidão e tem-la como
amiga. Choras e pedes desculpa. Não se pede desculpa por mostrar o espelho quebrado que se sente no peito. Os meus pensamentos são veneno. E
eu tenho-os todos os dias. Desde que abro os olhos até mesmo depois de os
fechar. Quero-to dizer mas não consigo. Não me dou a ti como tu te dás a mim. A isso sim, tenho de pedir desculpa. Enquanto tu lutas para encontrar o sorriso dentro de ti, eu sinto que gastei o último no último jantar em que rimos as duas como se o mundo fosse acabar a qualquer momento, e já tenho saudades dessa dor na barriga e das lágrimas quentes.