JUST BREATHE
"it's better to burn out than fade away"
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
o tempo esgota-se num ápice. não todo o tempo. o tempo bom. o tempo que se passa com quem se gosta. hoje vivemos com uma data final marcada. uma data de despedidas. uma data de adeus. não das pessoas. mas dos momentos. dos hábitos. dos cafés. dos cigarros. das viagens de carro. talvez por isso as memórias sejam tão grandes como os sorrisos. porque estão a terminar. um término duro como o frio da nossa vila.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
quinta-feira, 19 de dezembro de 2013
Bebe. Não.
Levanta-te. Não.
Vive. Não.
Em que te tornaste? No fatal
esquecimento de mim em ti.
Se ao menos tivéssemos
envelhecido sem tempo, sem lugares de insónia, sem alturas em que eramos corpos
com sombra. Repara, hoje o que resta de nós são sombras esfarrapadas, tão
esfarrapadas quanto as nossas roupas.
O nosso próprio tédio suspende a
respiração da esperança que não temos. E as velas vão-se apagando e a escuridão
começa a crescer, divisão por divisão, lembrança por lembrança.
Uns morrem de fora para dentro,
nós morremos de dentro para fora. A solidão bateu de leve à nossa porta e eu
abri-a. Para quê recusar-lhe entrada?
Anda cá, deita-te aqui junto a
mim. Pousa a garrafa. Não, não te tapes! Sente. Sentes o abraço do exílio?
Ouve. Ouves o chorar do tempo?
Quão fácil é desistir e no
entanto tão triste…
Dá-me a tua mão. Vem
desprender-te da vida comigo…
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
-Meu filho,
nas noites em que matavas a lua com os teus gritos cada respirar teu era para
mim um sufoco… - ainda hoje te ouço a dizeres-me isso, Mãe. Ainda hoje te vejo
sentada na poltrona, com a janela suja pelos meus dedos finos, dedos que sempre
disseste serem de pianista. Desiludo-te, hoje esses mesmos dedos servem somente
para segurar cigarros derrotados pelos dias, pelas noites, pela saudade.
Era tão quente
o teu colo, Mãe, e eu sentia que te pertencia, no teu colo, no teu ser, na tua
alma. Em tempos todo o meu mundo foi o teu seio quente, o seio quente de minha
Mãe. Hoje não há quentura suficiente para me aquecer como tu me aquecias, e
isso deixa-me cego, uma cegueira imensa de ti.
Houve um tempo
em que todos lá em casa morríamos por ti, Mãe. Eu, sem o saber, cresci, cresci
a sentir-te lavares-me o cabelo e o corpo com a água morna, água que cheirava a
ti, água que crescia com as lágrimas que vertias enquanto puxavas as mangas da
tua camisa para os cotovelos e me dizias para parar de te molhar.
Mas quando
sorrias, Mãe, quando sorrias os dias cresciam, os dias viviam e nós dançávamos,
dançávamos ao som do teu sorriso, do teu sorriso e do movimento do teu cabelo
liso que nos acariciava a cara quando, antes de dormir, nos davas um beijo na
testa e nos sussurravas sonhos ao ouvido.
Mãe, quem sou
eu agora?
Mãe, preciso
de ti aqui! Preciso-te no quotidiano de mim!
Mãe, volta por
favor! Diz que me perdoas por ter partido todos os pratos na noite em que…na
noite em que morreste. Como tu gostavas daqueles pratos, Mãe…
Não há
qualquer doçura na ausência, na mais pura ausência de ti. Há somente um cansaço
que me entorpece e me mata.
Sou um
derrotado, Mãe. E hoje, quando me deito e fumo o último cigarro, sinto que sou
novamente o teu menino, sinto que o tempo não passou e te levou. Fico, fico
assim quieto, e por momentos sou dois, o eu sem ti e o eu contigo e por
momentos sei que ainda me arrumas os caracóis que desapareceram, tal como tu.
terça-feira, 30 de julho de 2013
Naquela noite não lhe
escreveu. Na noite depois da noite ele estava diferente. Ele já não era ele
para ela. E ela morreu um bocadinho. Ao início quase não se notava, mas depois
começou a notar-se. Ela já não sorria para o telemóvel quando ele lhe escrevia,
porque ele já não lhe escrevia da mesma forma, e ela começava a sentir a
diferença. Arrependeu-se das palavras que dissera, mas o tempo não volta atrás.
E enquanto o seu tempo chorava o dele estava ausente e os dois tempos deixaram
de se guiar juntos, ou talvez de juntos nunca tivessem tido nada. Quando lhe
perguntaram por ele ela engoliu as lágrimas. Quando pensou nele ela engoliu as
lágrimas. E ainda não as deixou viver, ainda estão dentro dela, prontas a serem
deixadas sair, como as palavras que ela começa a escrever mas que não consegue
ler. E as músicas, as músicas custam a ouvir. Aquelas músicas com o nome dela
que ele cantou num dia em que não havia estrelas. Nesse dia não fizeram
diferença, as estrelas, mas hoje fazem, porque magoam, ferem as noites em que
há estrelas e ferem as noites em que não há. Tudo fere, tudo queima, tudo
custa. E ela teima em falar com ele, em continuar o que não tem continuação, só
fim. Ela não quer perder a primeira paixão tão facilmente, ela não quer
abandonar algo que nunca existiu mas que a agarra e chateia e irrita como uma
pastilha presa à sola do sapato. Ela deixou-se de Chico Buarque e Beatles, ela
quis deixar-se de Lobo Antunes e Vinicius, de uns conseguiu, de outros não.
Espera um dia ver isso e não o ver a ele, ouvir, ler, sem o ter a ele em cada
piscar de olhos, em cada linha, em cada nota. A capacidade que ele lhe tirou de
escrever, voltou a dar-lha. A tristeza que lhe roubou da alma, voltou a
dar-lha. A escuridão do olhar que lhe apaziguou, voltou a dar-lha. E tudo o que
deixou de ser voltou, mas de uma forma diferente, tal como ela, que depois dele
era uma pessoa diferente, uma pessoa que aprendera ser capaz de amar.
sábado, 8 de junho de 2013
numa tentativa falhada de editar uma alma rasgada procura-se por quem não quer aparecer. por quem não conseguimos ver. cansamos-nos das pessoas partidas, marcadas,com abismos. como nós. mas pessoas incompletas são mais interessantes. sangram a cada palavra e a cada palavra nos cativam. mistérios. conspirações de tempos em que nos sentíamos heróis de nós próprios. procuramos em sítios ausentes por asas que nos permitam fazer mais do que existir.
quarta-feira, 5 de junho de 2013
“Vi logo o tamanho da sua solidão: tinha o tamanho do mundo. Ela era a criatura mais só do mundo. E a sua história apareceu - simples, tenebrosa - entre as nossas duas cervejas. Todas as histórias pessoais são simples e tenebrosas. Não me comovi. Comovido já eu estava: com as coisas, comigo, com a chuva sobre a cidade. Talvez houvesse uma irónica alegoria em nós os dois ali sentados diante dos belos copos frios, compreendendo ambos
tão facilmente o que nos acontecia e iria acontecer que não tínhamos pressa. Poderíamos morrer ali mesmo. Esperávamos.”
Herberto Helder
A person, A paper, A promise
Once on a yellow piece of paper with green lines
he wrote a poem
And he called it "Chops"
because that was the name of his dog
And that's what it was all about
And his teacher gave him an A
and a gold star
And his mother hung it on the kitchen door
and read it to his aunts
That was the year Father Tracy
took all the kids to the zoo
And he let them sing on the bus
And his little sister was born
with tiny toenails and no hair
And his mother and father kissed a lot
And the girl around the corner sent him a
Valentine signed with a row of X's
and he had to ask his father what the X's meant
And his father always tucked him in bed at night
And was always there to do it
Once on a piece of white paper with blue lines
he wrote a poem
And he called it "Autumn"
because that was the name of the season
And that's what it was all about
And his teacher gave him an A
and asked him to write more clearly
And his mother never hung it on the kitchen door
because of its new paint
And the kids told him
that Father Tracy smoked cigars
And left butts on the pews
And sometimes they would burn holes
That was the year his sister got glasses
with thick lenses and black frames
And the girl around the corner laughed
when he asked her to go see Santa Claus
And the kids told him why
his mother and father kissed a lot
And his father never tucked him in bed at night
And his father got mad
when he cried for him to do it.
Once on a paper torn from his notebook
he wrote a poem
And he called it "Innocence: A Question"
because that was the question about his girl
And that's what it was all about
And his professor gave him an A
and a strange steady look
And his mother never hung it on the kitchen door
because he never showed her
That was the year that Father Tracy died
And he forgot how the end
of the Apostle's Creed went
And he caught his sister
making out on the back porch
And his mother and father never kissed
or even talked
And the girl around the corner
wore too much makeup
That made him cough when he kissed her
but he kissed her anyway
because that was the thing to do
And at three a.m. he tucked himself into bed
his father snoring soundly
That's why on the back of a brown paper bag
he tried another poem
And he called it "Absolutely Nothing"
Because that's what it was really all about
And he gave himself an A
and a slash on each damned wrist
And he hung it on the bathroom door
because this time he didn't think
he could reach the kitchen.
by Earl Reum
terça-feira, 4 de junho de 2013
quinta-feira, 30 de maio de 2013
«Mas teres nascido é ter-te saído a sorte entre biliões e biliões
e biliões de hipóteses negativas. Saiu-te o número inscrito na
areia do universo. Tens pois o privilégio incrível de ver o sol,
as flores, os animais. De ouvires as aves e o vento. De. E,
todavia, como esqueces isso tão facilmente.»
Vergílio Ferreira
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Como dizia o Poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Nao há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão.
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Nao há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão.
Vinicius de Moraes
«- O Senhor não devia exigir-lhe demasiado. O passado não se pode repetir.
- Não se pode repetir? - gritou ele, incrédulo. - Claro que sim, que se pode!
Olhou em torno, esgazeado, como se o passado o estivesse espreitando, aqui na sombra da casa, mas fora do seu alcance.»
F. Scott Fitzgerald em O Grande Gatsby
quarta-feira, 15 de maio de 2013
tu és a razão de as nuvens terem sombras. tu és o motivo de tudo estar estático na inconstância cansativa do tempo. tu és o porquê de as palmas das minhas mãos não serem mapas do futuro mas rascunhos do passado. numa desmontagem quase perfeita perco peças de mim que nem no mais fundo leito de um rio encontrarei. entre átomos de carbono e cianeto me despeço.
segunda-feira, 13 de maio de 2013
sábado, 27 de abril de 2013
sentem-se palavras ditas em lábios calados. não se dão passos porque passos foram gastos quando ainda nem sequer se sabia o caminho certo. mas que caminho certo? esse não existe. talvez seja mais simples desaparecer, ir desvanecendo nas letras das músicas, nos acordes, nos silêncios. nada melhor que desaparecer em silêncios, tal como a ausência que os caracteriza, também a tua ausência nasce, ou morre. podes sempre dizer que vais encontrar o teu lugar no mundo, e quando não voltares a aparecer, não vão pensar que desapareceste, mas sim que encontraste o teu lugar e simplesmente não voltaste.
domingo, 21 de abril de 2013
quinta-feira, 11 de abril de 2013
normalmente não acreditas no que te dizem. por algum qualquer motivo, quando as coisas são boas tu não acreditas nelas. talvez tenhas medo que afinal não sejam assim tão verdadeiras e que, quando a ilusão deixar transparecer a realidade tu vais-te magoar, porque no final de tudo esse é um dos teus medos. mas quando te falam com olhos tão verdadeiros é impossível não acreditares, porque se isso não for a verdade, então nada o poderá ser.
quarta-feira, 10 de abril de 2013
não sei porque ficas. não sei porque insistes em ficar. eu aviso-te. eu imploro-te. não entres no meu mundo quando eu te asseguro que no fim te vou magoar. provavelmente vou chegar a uma altura em que te vou afastar sem tu sequer saberes porquê, e se me perguntares, eu também não vou ter uma explicação para te dar, porque simplesmente não existe. é simplesmente isso que eu faço, afasto as pessoas com o medo impregnado em mim e a certeza de que um dia elas me farão isso. por isso, prefiro ser eu a dar o primeiro passo, enquanto elas ainda não o fizeram, porque assim custa menos, custa menos saber que foste tu a querer isso e não os outros. eu sinto-me demasiado distante de mim mesma, não queiras fazer parte de um "eu" que não existe, de um "eu" que se vai manter na escuridão até ao fim. vai, eu não me importo. não esperes pelo momento em que eu já precise demasiado de ti na minha vida.
quinta-feira, 4 de abril de 2013
quarta-feira, 27 de março de 2013
o teu amor magoa. magoa como os sapatos quando se calçam pela primeira vez e deixam feridas e os pés doridos. normalmente quando isso acontece evito calça-los. contigo é mais difícil. tu queres que eu te calce vezes e vezes seguidas, mesmo tu própria sabendo que me vais magoar. por favor, quando partires, parte de vez. custa sempre mais quando te deixo de calçar por uns tempos, quando quase me esqueço de ti por baixo da cama, só tu, o pó e bilhetes do autocarro. senti alívio quando ouvi a chave a entrar na fechadura. mas tu recuaste. não por sentires que realmente não deverias partir outra vez. não por sentires que não podias desistir de mim outra vez. sim, é isso que tu fazes de cada vez que discutes e depois partes, mesmo quando depois mandas mensagens a dizer o contrário. recuaste porque estava mau tempo. recuaste porque era demasiado tarde e tinhas medo de fazer a viagem de carro sozinha. desculpa, estou farta de te calçar, de me magoar, de querer afastar-me de ti e depois tu me obrigares a aproximar-me de ti outra vez. um dia, quando tiver a coragem suficiente para pôr um ponto final em ti vai-te doer, mas não mais do que aquilo que me dói desde que me lembro de sentir dor.
segunda-feira, 11 de março de 2013
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
domingo, 10 de março de 2013
Juventude
Sim, eu conheço, eu amo ainda
esse rumor abrindo, luz molhada,
rosa branca. Não, não é solidão,
nem frio, nem boca aprisionada.
Não é pedra nem espessura.
É juventude. Juventude ou claridade.
É um azul puríssimo, propagado,
isento de peso e crueldade.
Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"
sexta-feira, 8 de março de 2013
sexta-feira, 1 de março de 2013
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